Quando pequena me sentia bem com o fato de conseguir guiar um cavalo sem usar chicote. Apenas com a boca, os pés e a mão firme nas rédeas mudava o passo do cavalo com destreza. Desde passada lenta, trote a galope, a confiança era latente em cima do animal, e meu maior prazer era galopar e manter o equilíbrio.

     Na adolescência perdi as rédeas e meu pé saiu do estribo, metaforicamente, perdi a dimensão dos meus pensamentos e me vi engolida por confusão. Lembro de nessa época ter muito medo do meu pai, que na sua limitação, explodia a cada tropeço meu. Os móveis da casa sustentavam as palmadas que nunca recebi fisicamente. Depois de um bom tempo fui descobrir que era expressão de amor. A lógica era: se eu temer, respeitarei e assim estarei protegida pelo meu pai… puro amor. Aprendi que o chicote não era apenas físico e amor tornou-se no meu interno sinônimo de controle, medo e dor. E sob controle dos meus pais perdi as rédeas do meu pensar.

     Recentemente me vi a galope, sob chicote incorporado e sem confiança, arredia não tive equilíbrio, fiquei sem rédeas e sem estribo. Desabei e quebrei o metatarso, e acreditei ser necessário o sacrifício pois uma égua com o metatarso fraturado não serve para corridas.

     Me impediram e me suspenderam por dois meses, colocaram gesso e cuidaram para que eu não me machucasse de novo. Me vi tolhida porém sem o que fazer a respeito senão aceitar.

     Tiraram o gesso, e estou voltando a andar. A (fisio)terapia me instrumentaliza aos poucos para que minha passada seja segura e não hesitante. O que me vejo no momento é olhando para os meus medos e conhecendo minhas estratégias. Estratégias criadas para que eu não petrificasse frente minha medusa interna. A diferença é que agora sei que posso usar o espelho. Talvez o medo se esconda por trás de diversas tarefas e a fuga seja meu imaginário, mas o que percebo é o medo do vazio, o deixado pelo desamor. Pelo espelho me encontro com o vazio e sinto que ele não é tão aterrorizante quanto imaginava. É apenas uma ausência, que pode ser preenchida de forma diferente.

     Eis o momento de destronar Tisífone e cortar as serpentes, tomando minhas rédeas de volta, e com equilíbrio, direção e autoconfiança, voltar a galopar e sentir o vento do tempo e das aprendizagens envolver meu rosto.

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